Um pedido de demissão do ministro da Justiça, Sérgio Moro,
por divergências em relação a posições do governo seria, a esta altura, um
desastre político para o presidente Jair Bolsonaro – que já anda às voltas com
uma insistente queda de popularidade. Por isso, Moro vem esticando a corda,
numa investida pública, com seguidas entrevistas e manifestações, contra a
transferência do Coaf de sua pasta para a Economia – o que, a depender do
Congresso, hoje é muito provável.

Insatisfeito com essa e muitas outras trombadas que vem
tendo no governo, onde já percebeu que não é prioridade, o que restaria a Moro?
Pedir o boné e ir para casa?
Afinal, quase todas as suas derrotas têm o dedo do Planalto
e de seus aliados. No caso do Coaf, por exemplo, o próprio presidente chegou a
admitir negociar o retorno do órgão ao Ministério de origem em troca da
aprovação da medida provisória que reestruturou administrativamente o governo
sem outras mudanças mais danosas.
Com isso, Bolsonaro deixou Moro exposto ao sol e aos ventos
da política, assim como em outros episódios constrangedores, como o da
revogação da nomeação da socióloga Ilona Szabo e o quase engavetamento do
pacote de mudanças penais enviado pelo ministro ao Congresso. Tudo indica que
esse comportamento “quem manda sou eu” de Bolsonaro, meio semelhante ao que ele
tem adotado em relação aos militares que supostamente o tutelariam, vai
continuar.
E Moro, se derrotado mais uma vez, terá que avaliar se vale
a pena continuar no governo para uma sucessão de desgastes e vexames. A
possibilidade de sair tem sido aventada nos últimos dias por interlocutores
próximos do ex-juiz, embora ainda cheire a pressão, sobretudo sobre o próprio
chefe, para rever sua posição inicial sobre a devolução do Coaf.
O que se comenta nos meios jurídicos de Brasília é que
a recente afirmação do ministro da
Justiça de que seria “ganhar na loteria” ser nomeado para uma vaga no STF veio
do fundo do coração. Foi um recado direto.
O grande problema é que nem isso está garantido para Moro,
sobretudo se ele deixar o governo chutando o balde. Vaga no STF só haverá em
2020, e a nomeação depende da caneta de Jair Bolsonaro e, principalmente, da
aprovação do Senado Federal – ou seja, daquele pessoal que não quer ver o
ex-juiz da Lava jato nem pintado.
Tudo indica que Sérgio Moro, apesar da popularidade, deve
estar arrependido de ter deixado a toga pelo governo Bolsonaro. Caiu numa
ratoeira.
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